A tradição da capoeira em Juiz de Fora
A capoeira é uma expressão cultural que chegou ao Brasil pelos descendentes africanos e mistura arte marcial, esporte, cultura e música. Por ser uma das manifestações culturais mais marcantes do Brasil, a Roda de Capoeira recebeu em novembro desse ano o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade concedido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Os estilos de se "jogar" capoeira são variados e diferenciam-se pelos movimentos e pelo ritmo musical de acompanhamento. O mais antigo, criado na época da escravidão, é a capoeira angola, cujas principais características são o ritmo musical lento, golpes jogados próximos ao solo e muita malícia. O estilo regional caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau: os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas. Já o terceiro tipo é a capoeira contemporânea, que une um pouco dos dois primeiros estilos e é o mais praticado na atualidade.
Jogada nas ruas ou em locais fechados, a capoeira está espalhada pelo país e em Juiz de Fora não poderia ser diferente. Ativo desde 1993, o Grupo Zabelê é um importante representante do movimento na cidade. O grupo dá aulas em sua sede própria, no bairro São Mateus, e em suas filiais, espalhadas por algumas escolas da cidade em que a capoeira faz parte do ensino extracurricular. Suas apresentações são feitas em locais fechados, para pais de alunos e visitantes, ou nas ruas, mais comumente se apresentando na Praça São Mateus e na Praça Cívica da UFJF.

Foto: Amanda Barbosa
Apresentação do Grupo Zabelê no Colégio Equipe, dia 23 de novembro

Arquivo pessoal
Professor Negão
Marco Antonio C. Nascimento, conhecido como Professor Negão (foto), é um dos mestres do grupo Zabelê. Para ele, a cultura praticada nas ruas ganha muito mais elementos do que se fosse feita dentro de uma sala de aula. "Nas ruas, geralmente desenvolve-se melhor características como a espontaneidade, por exemplo. Quando um indivíduo que não faz parte daquele grupo de alunos pede para jogar em uma roda, ele traz novos elementos [golpes] que forçam o outro jogador a se adaptar a um novo estilo de jogar, enriquecendo o conhecimento de ambas as partes. Por isso é muitíssimo importante essa prática cultural nas ruas”, acredita o professor
Por ser um esporte advindo da cultura negra e envolver musicalidade além da luta em si, a capoeira é marcada por preconceitos em sua história. O grupo Zabelê, por também atuar em escolas, já foi impedido de oferecer suas apresentações e ensinamentos em uma instituição católica da cidade. A pessoa responsável pela introdução de atividades extracurriculares na instituição alegou que as aulas não condiziam com as práticas ensinadas no colégio. Para Negão, essa foi a situação mais marcante de preconceito que ele e o grupo sofreram. “Nas ruas a arte é mais aceita, já que as pessoas param, ficam em volta e apreciam a roda, mas infelizmente ainda existem os olhares negativos em todos os lugares”, diz ele.
Negão tem uma visão crítica sobre a cultura na cidade. “A cidade de Juiz de Fora é diferente demais, a difusão da cultura tem sempre que passar pelos órgãos públicos, enquanto em outras cidades estas políticas públicas de promoção funcionam como incentivo e não manutenção, como acontece aqui. Além disso, em outros locais temos aqueles apaixonados por aquela prática cultural e empresas que patrocinam. Em Juiz de Fora, somente a Prefeitura apoia, patrocina, incentiva e como são muitos projetos, infelizmente alguns ainda ficam esquecidos”. O professor gostaria que houvesse mais apoio por parte das empresas e empresários, não com vistas à privatização da arte e sim para se obter mais recursos e poder atender o maior número de pessoas possível.
Apresentação dos alunos do Grupo Zabelê