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A luta do cais Ocupe Estelita: a cultura como suporte

da manifestação

Dentre as ocupações culturais de ruas e manifestações artísticas de Pernambuco, escolhemos apresentar aqui o Movimento Ocupe Estelita (PE), em razão de sua visibilidade e da adesão nacional em prol da causa defendida pelos ocupantes. Estelita refere-se ao Cais José Estelita, de aproximadamente 101,7 mil metros quadrados, com um pátio ferroviário e uma série de armazéns de açúcar abandonados pelo poder público. Localizado estrategicamente entre Boa Viagem e o Recife Antigo - entre um bairro nobre que possui uma das maiores aglomerações por metro quadrado da cidade e um bairro que faz parte da história do país-, atualmente é um dos principais polos de lazer e cultura da cidade.

     Há seis anos a área foi leiloada pelo governo e o grupo de construtoras que venceu tem o objetivo de erguer o Projeto Novo Recife. O plano era construir um condomínio de luxo, segundo a revista Carta Capital: "pelo menos 12 torres, sendo sete residenciais, duas comerciais, dois flats e um hotel. Tudo com até 40 andares, além de estacionamentos para aproximadamente 5.000 veículos. No total, o projeto foi orçado em 800 milhões de reais. O preço inicial dos apartamentos vai variar entre 400 mil e 1 milhão de reais cada."

Imagem de como seria o Cais com o projeto construído

     Assim que a população foi informada da compra, muita gente posicionou-se contra. Segundo o Movimento, o projeto traria danos ambientais, diminuição da qualidade de vida e mobilidade urbana e exclusão da maioria da população. O impacto do projeto é comparado à construção das Torres Gêmeas do Recife, que impediu que o centro da cidade fosse considerado Patrimônio Histórico pela Unesco, já que as Torres "poluem" a paisagem cultural. O projeto, inclusive, não tem autorização do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), nem da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) ou da FUNDARPE (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco).

 

     Encontros no Estelita já aconteciam desde 2012, com ocupações culturais 4 vezes ao ano. O propulsor do movimento foi a tentativa por parte de funcionários da Construtora de demolição dos armazéns de açúcar durante a madrugada do dia 17 de junho. A partir  desse momento, já ocupando fisicamente o cais, eles ganharam visibilidade midiática. Segundo Igor Travassos, morador de Recife e participante do Ocupe Estelita, "Ali estavam pessoas em prol da mesma causa, sem preconceitos... Ali sim, vivenciávamos a cidade como nós queríamos, construída para todos, onde todos tinham voz."

 

     Diversos artistas e intelectuais envolveram-se com a causa, que tomou grandes proporções. Os ocupantes começaram a se mobilizar para discutir formas de intervençõe popular em debates sobre processos e rumos de ocupação da cidade. Como o site do Ocupe Estelita apresenta: "O movimento é formado por qualquer um/a que deseja abraçar a luta pelo Cais. Somos qualquer um/a que deseja se erguer contra esse modelo de desenvolvimento excludente. Somos qualquer um/a que acredita num crescimento urbano democrático e inclusivo".

Artistas que apoiam o Ocupe Estelita

     O primeiro acampamento no Cais organizado pelo Movimento foi em maio deste ano, quando ocorreram atividades artísticas diversas, festas, oficinas e rodas de debate. "Víamos a arte acontecer, produzidas por nós e para nós. E era isso que fazia com que nos distraíssemos e promovia um contato maior entre as pessoas que estavam na ocupação, porque havia muita pressão externa, a repercussão que o movimento ganhou, a imprensa, a polícia "- acredita ainda Augusto. O resultado? Uma ocupação cultural que conseguiu levar mais de 10 mil pessoas para o Cais em um dia! O objetivo era que a população conhecessse o tão polêmico Projeto Novo Recife e, ciente das possíveis consequências dele, participe das discussões e reivindique o cancelamento do plano.

  Conversamos com Liana Cirne Lins e Ivana Driele, participantes do Movimento. Liana é advogada, professora e representante do Ocupe Estelita e falou detalhes das ações promovidas e da busca por tornar as políticas públicas da cidade voltadas para o povo. Ela vivencia e defende a causa desde o início e falou com nossa equipe sobre a expulsão dos manifestantes do Cais, a compra do terreno e o atual estado do processo. Ouça nosso bate-papo com Liana e confira a entrevista com Ivana Driele, militante do movimento, que ocupou o território do cais Estelita.

Termos citados por Liana

 

Ágora é um termo grego que significa a reunião de qualquer natureza, geralmente empregada como uma reunião geral de pessoas.

 

A roda de coco, ou Coco de Roda, é uma dança com origem africana típica das regiões praieiras do Norte e Nordeste do país.

© 2014 Cultura nas Ruas. 

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