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As ruas como palco das vozes e manifestações artísticas

Uma entrevista com o artista João Paulo de Oliveira

Foto:  Arquivo pessoal

Juiz-forano, nascido em 1981, João Paulo de Oliveira é formado em Jornalismo e mestre em Ciências Políticas, pela UFJF. Escritor, desenhista e poeta, leva suas intervenções e produções culturais ruas afora. Desde 2006, pesquisa e realiza trabalhos de convergência e foi professor de cursos de Comunicação em duas faculdades. Além disso, JP de Oliveira pesquisa as manifestações estéticas urbanas e, com isso, criou catálogos fotográficos de intervenções urbanas em cidades brasileiras e argentinas. Atualmente é o responsável pela produção de conteúdo das mídias sociais da Orquestra Sinfônica Brasileira. 

João Paulo de Oliveira

     Qual sua visão sobre as intervenções culturais feitas na rua, de modo que a arte seja cada vez mais democratizada? 

 

     JP de Oliveira: As ruas sempre foram o palco das vozes e da manifestação artística. Ali acontece certo resumo do pensamento, do sentimento e dos desejos das pessoas. Um artista pode ao mesmo tempo estar ganhando um dinheiro com sua performance, mas também, no caso daqueles que nela intervém, passando à sociedade um pensamento seu, uma contribuição ao debate. Nessa contribuição para a ágora, as pessoas podem tanto referenciar a si mesmas, seus grupos ou aquilo que imagina ser importante compartilhar com o mundo. A rua é uma espécie de linha do tempo. Entretanto, questões naturais, o entendimento policial da cidade, onde acredita-se que aquele que nela se insere perturba a ordem e outras questões como o cotidiano atribulado e o medo, faz com que as pessoas deixem de olhar para a rua com carinho e com o valor real dela.

 

     Em alguns lugares e momentos, a arte já se mostra democratizada, a rua também. A questão toda é que as pessoas saibam que elas têm possibilidade sim de dar voz à expressão pessoal ou coletiva nas ruas. O que importa mesmo é que as pessoas percam o medo de ir às ruas e se manifestar, seja individualmente ou em grupos, política, social ou artisticamente.

 

     Das suas obras nas ruas, qual te marcou mais na produção ou exibição e por quê?

 

     JP de Oliveira: Sem dúvida, o Zico. Comecei grafitando uma imagem do rosto do maior jogador da historia do Flamengo. Com o tempo, aquilo foi se tornando uma paixão e acabou despertando o interesse de outras pessoas, inclusive do Zico. Nesse ano ou no ano que vem, irá sair um artigo de um aluno e uma professora do doutorado da UERJ na revista da ESPM (Escola Superior de Publicidade e Marketing), sobre a Guerrilha que fizemos em homenagem ao Zico. Juntei alunos e amigos e fizemos uma guerrilha em Juiz de Fora. Isso aconteceu em 2009. Em 2012, o Zico ficou sabendo e quis me conhecer. 

Foto:  Arquivo pessoal

João Paulo e Zico

     Você também escreve sobre a cultura e tem alguns artigos sobre grafite, dessa forma, qual sua opinião na relação grafite x pichação?

 

     JP de Oliveira: São termos para um reconhecimento mais geral. Entretanto, ambas as atuações são a mesma original: escrever algo em um lugar que não estava preparado para aquilo. Grafitar/Pichar pode ser tanto num muro quanto numa nota de dois reais. O que acontece é que precisamos criar categorias, nomes, significados para diferenciar as coisas e até mesmo, legitimar movimentos, produtos e situações.

 

     Ambos trazem imagens. A caligrafia que é característica no picho também aparece no grafite em forma de tags e outras maneiras, digamos, mais estéticas. O grafite se parece mais com o muralismo e o picho com uma assinatura em papel, mas ambos cumprem essa necessidade do sujeito em se comunicar com sua cidade, com o mundo, com a vida anônima das ruas.

 

     Em Juiz de Fora, no Rio de Janeiro - onde você mora atualmente -, ou em qualquer outra cidade possível, você tem pretensão de realizar futuras intervenções urbanas?

 

    JP de Oliveira: Estou há mais de um ano sem intervir diretamente. Entrei em um processo que volta minha produção mais para a fotografia e as letras. Ano passado realizei algumas ações e principalmente, cobri as manifestações a partir de junho. Apesar de parecer estranho, estar com uma câmera em meio à rua acontecendo é também uma excitação bem parecida como se estivesse com uma lata de spray ou colando algum trabalho.

 

     Os últimos trabalhos que fiz, no ano passado, foi em parceria com minha esposa, a Ana Emília, que na época em que morou em JF ficou conhecida como UmL - grafiteira.

 

Foto:  Arquivo pessoal

Foto:  Arquivo pessoal

     De forma bem ampla, como você vê a cultura brasileira atualmente?

 

     JP de Oliveira: A cultura está em um processo de estudo e de produção de conteúdo com qualidade regionalizado. Estamos escapando ao cerco mediado dos meios de comunicação tradicionais e nos posicionando nas ruas e na web. No meu entender, somos uma sociedade que teve uma rica carga de influências. E assim, hoje, 70 anos depois da urbanização e da possibilidade real de contato e troca entre pessoas de origens e visões diferentes, podemos fazer um novo processo antropofágico e daí sair muita coisa boa, reflexiva, prazerosa, consciente... Enfim, bem ao estilo brasileiro profundo, sem ser essas merdas ai que são vendidas como novidades.

Foto:  Arquivo pessoal

Galeria de obras do JP Oliveira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

© 2014 Cultura nas Ruas. 

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