A Ocupação Rosa Leão em Belo Horizonte e o engajamento de suas festividades
A luta pela permanência da Ocupação Rosa Leão também está presente nas manifestações culturais durante as festividades da ocupação
As ocupações que se estabelecem pela falta de estrutura urbana que comporte as populações de baixa renda são uma realidade em Belo Horizonte. Famílias que, por vezes, não possuem condições de pagarem aluguel, juntamente com a população sem-teto, buscam se organizar em uma rede integrada de solidariedade e luta, a fim de poderem se estabelecer e garantir os subsídios para a sobrevivência. Tais movimentos se consolidam como alternativa de moradia para os que não possuem condições de suportar o custo de um aluguel, além de se configurarem como organizações que militam pela legalização dessas ocupações e cobram do Estado ações efetivas em prol do cumprimento dos direitos do cidadão.
A permanência das famílias dentro deste espaço integrado acaba demandando atividades que contribuam para a criação de laços afetivos. Atividades culturais acabam por cumprir bem esse papel e contribuem para o engajamento do grupo na luta pela manutenção da ocupação.
A formação e luta da Ocupação Rosa Leão em Isidora
Atualmente, são três as Ocupações que se instalam na região de Isidora, em Belo Horizonte: Esperança, Vitória e Rosa Leão. Rosa Leão surgiu de maneira espontânea e pouco organizada há pouco mais de um ano e meio. Em um terreno abandonado pela prefeitura, famílias buscaram auxílio junto a movimentos populares e a uma rede de apoio de arquitetos da Universidade Federal de Minas Gerais.

Com o tempo, as famílias foram se unindo e criando uma organização interna mais consolidada, fazendo com que a própria estrutura física da Ocupação adquirisse um maior arranjo. As casas foram divididas em quadras e as ruas foram organizadas pelas próprias famílias. Assembleias foram realizadas para debater sobre a luta da Ocupação e sobre sua estrutura. Foram criados coletivos, um centro ecumênico, creches, igreja, posto de saúde comunitário, horta comunitária e uma área de preservação ambiental. A organização também se preocupou de antemão a realizar um cadastro das famílias, para que se tenha uma noção numérica da população da Rosa Leão.
Foto: Arquivo do movimento
Grafite no local da Ocupação
Cultura nas festividades como forma de integração e luta
Gilvander Luís Moreira é um dos fundadores e articuladores da Ocupação. Ele afirma que uma das preocupações da Rosa Leão é promover a cultura para os moradores por meio de festas de integração. Tais festas contam com compositores, cantores, repentistas e violeiros, entretendo os moradores da ocupação no espaço que lhes é público.
Charlene Cristiane, outra militante da ocupação, relata também que as organizações culturais desenvolvidas dentro da Rosa Leão acontecem de maneira improvisada na maioria das vezes, contando com a ajuda de artistas que apoiam o movimento e com o apoio de organizações culturais independentes. Segundo Gilvander Luís Moreira, as organizações culturais dentro da ocupação contam também com a ajuda do Espaço Comum Luiz Estrela, que se compromete em ser um espaço de formação artística e cultural independente e aberto a todos. Atuando dentro de um casarão histórico abandonado há 19 anos, o Espaço Comum Luiz Estrela possui em seu pátio externo uma gama de atividades culturais, que pretendem priorizar a atividade artística independente.
O que mais se torna evidente é a maneira como a conscientização sobre a luta do Movimento está atrelada às manifestações culturais festivas da Ocupação. Isso se torna ainda mais claro quando o sanfoneiro e cantor popular Paulo Raimundo, conhecido pelos ocupantes como “Baiano”, apresenta a música “Lá vem o camburão” no aniversário de um ano desse Movimento. Na mesma festividade estava presente o violeiro Pereira da Viola, houve duelo de MC’s e apresentação artística de um grupo de crianças da Ocupação.
Em um trecho da canção escrita por Baiano é dito: “Cadê o camburão? Cadê o camburão? Eles estão rodeando pra entrar na Rosa Leão. Não deixo não, não vou deixar! A Rosa Leão é nossa, todo mundo vai lutar”. A letra milita pelo Movimento, assim como outras criações artísticas dos integrantes da Ocupação, o que demonstra o papel importante das festividades e manifestações artísticas na consolidação da luta.


Foto: Arquivo do movimento
Foto: Arquivo do movimento
Comemorações de 1 ano da Ocupação Rosa Leão, no dia 17 de maio de 2014.
No vídeo a seguir você acompanha a apresentação da música "Lá vem o camburão" nas festividades de aniversário de um ano da Rosa Leão.