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Cultura como suporte político: manifestações pró-democracia em Hong Kong

 Fonte: Tyrone Siu/Reuters

Confronto entre policiais e manifestantes, no dia 28 de setembro. A polícia usa bombas de gás para dispersar os manifestantes, que bloqueavam a principal rua para o Distrito Central, em frente a sede do governo. 

     Tudo começou no dia 26 de setembro de 2014, quando a praça central do governo de Hong Kong foi ocupada por cerca de cinco mil estudantes que protestavam a favor do sufrágio universal.

 

    Hong Kong pertenceu a Grã-Bretanha por mais de 150 anos até que, em 1997, o território foi devolvido à China em um acordo político chamado de “One Country,Two Systems”, que declara que os moradores de Hong Kong podem manter certa independência e liberdade a despeito das restrições que existem na China. Além disso, o acordo prevê que em 2017 a população do território poderá eleger seu próprio líder. No entanto, o governo chinês retrocedeu e anunciou que irá selecionar todos os candidatos às eleições de 2017, o que, para muitos, significa a perda do controle sobre o seu próprio governo.

 

    A revolta então teve início. O objetivo dos manifestantes, de acordo com o militante Ian Shawn*, é garantir que as eleições que virão sejam realmente democráticas, com direito a voto e candidatos de oposição. "Depois que foi confirmado no dia 31 [de agosto] que a eleição para o executivo-chefe seria restrita aos candidatos que apoiam o governo central e, consequentemente, excluía candidatos pró-democracia, nós percebemos que precisávamos ir às ruas. Nós queremos eleições com padrões internacionais, com um direito real de escolher nossos representantes”.

 

    Após 66 dias de protesto, a frente pró-democracia ainda não recebeu resposta oficial, além do pedido para deixar as ruas. O protesto foi reprimido pelas autoridades locais com prisões de líderes ativistas e confronto com os manifestantes. Em resposta às ações policiais, mais de 50 mil pessoas se uniram e foram às ruas apoiar o movimento. Shawn afirma que o chamado Occupy Central with Love and Peace (OCLP)**, que apoiou o Umbrella Reevolution, ganhou vida após a intervenção agressiva da polícia. "Nós conseguimos um apoio popular muito grande e pretendemos manter nossas ações para garantir uma eleição democrática”. 

 

    A polícia tem tentado frequentemente dispersar os manifestantes com o uso de gás de pimenta e bomba de gás lacrimogêneo. Os manifestantes então decidiram usar sombrinhas e guarda-chuvas para se defenderem dos ataques e acabaram criando o grande símbolo da ocupação. O movimento, que ficou conhecido como “Umbrella Revolution” ou “Umbrella Movement”, usa o guarda-chuva como representação da defesa do povo contra um governo opressor. O símbolo tem se espalhado pelo mundo inteiro e vem sendo usado como demonstração de apoio ao movimento. “A polícia tem confiscado os guarda-chuvas durante pronunciamentos oficiais para impedir revoltas. O simbolismo cresceu de tal forma que muitos têm se perguntado se algum dia o guarda-chuva representará um simples guarda-chuva novamente”, acredita Mike Ling*, morador de Hong Kong.

 

O poder das manifestações artísticas no movimento

 

   Multidões se unindo para clamar por reformas políticas não tem sido novidade nos últimos anos. O fluxo de informações provenientes da internet tem facilitado a reunião de pessoas em torno de um interesse comum de forma cada vez mais organizada, além da própria influência da crise de representação política que tanto temos ouvido falar nos últimos anos.

 

    Movimentos que realizam ocupações, à maneira dos Indignados (15M), na Espanha, e do Occupy Wall Street, se espalharam e ganharam adeptos ao redor do mundo. Só no mês de novembro, vimos protestos surgindo em Ferguson (EUA), decorrentes do assassinato de um jovem negro por um policial, que foi liberado pela Corte, e no México, contra o desaparecimento de 43 estudantes. Atualmente, as ruas de New York clamam pelo fim da violência contra negros e Enrique Pieña Neto enfrenta a maior crise de seu governo no México.

 

     Então, qual o grande diferencial das manifestações em Hong Kong?

 

    Certamente o apelo artístico do movimento. Os militantes utilizam a arte como forma de manifestação do seu desejo de mudança. De acordo com a página Hong Kong Democracy Now “cultura, arte e criatividade têm um importante papel para a manutenção do movimento. Elas são uma afirmação, uma confirmação, e é a forma das pessoas espalharem suas exigências e também mostrar suporte umas as outras”. 

 

    Ku Chun*, ativista, afirma ainda que a arte tem o papel de conscientizar as pessoas sobre as implicações no futuro em relação à adoção de posturas autoritárias. "A arte também têm revitalizado o processo, não apenas ao incentivar as pessoas a participarem, como também pensando em novos conceitos e formas construtivas de manter o movimento", completa.

 

      Para conhecer melhor as expressões artísticas do movimento, confira a galeria abaixo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*Os nomes dos entrevistados foram alterados a pedido dos mesmos.

** O OCLP é um movimento não-violento criado por Benny Tai, professor de Direito da Universidade de Hong Kong, com o intuito de pressionar o governo a realizar reformas no sistema eleitoral. Apoiou o Umbrella Revolution.

© 2014 Cultura nas Ruas. 

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