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Sorriso no rosto e sapato engraxado no pé

por Jéssica Vitorino

 

Em meio a tanta correria, os olhares mais atentos reparam nos banquinhos altos espalhados pela rua, em frente ao Cine Theatro Central e ao lado do Cine Palace. Vez ou outra, um senhor, ou mesmo um jovem executivo ocupa a cadeira no alto. Sentado na tradição de décadas, observa quem passa como se o tempo parasse por alguns instantes.

 

Em um caixotinho abaixo da grande cadeira, o engraxate, polindo e cuidando da peça que ajuda no caminhar do dia-a-dia. Uniformizado com um sorriso no rosto, Paulo Marcelino, mais conhecido como Paulinho, exerce a profissão na rua há 20 anos. Antes de se tornar engraxate, trabalhava como pedreiro, mas o meio não era valorizado. Então, influenciado e incentivado pelo irmão, começou a ajuda-lo engraxando sapatos e, dia após dia, foi pegando amor pela profissão.

 

“Quando comecei o movimento era grande, já cheguei a engraxar 80 pares de sapatos por dia. Com isso, ganhei dinheiro, construí minha casa e criei minhas três filhas”, conta. “Hoje o movimento caiu, a nova geração não aderiu aos sapatos, gostam mesmo é de usar tênis”, mas apesar da redução do movimento, Paulinho garante que ainda existem clientes fieis. “A clientela agora é seleta e diversificada. Alguns profissionais ainda não dispensam o uso do sapato, como advogados, trabalhadores da Câmara e do poder executivo. Mas também tem as pessoas simples, como mecânico, faxineiro, pedreiro, que sentam aqui”.

 

Além de acompanhar as mudanças do vestuário masculino, Paulinho também viu a Rua Halfeld se modificar. "Há alguns anos, o centro era um local de gente elegante. Existia uma diferença nas classes e nas pessoas que passavam por aqui. Hoje não. Pessoas de todas as classes se misturam, não há mais separação e isso é muito bom”. Essa mistura de classes e pessoas faz com que o engraxate conheça gente de todas as regiões da cidade “tem pessoas que moram em bairros distantes, como Benfica, Retiro e Floresta e já me confessou que se eles vêm ao centro e não passam pela Halfeld é como se não tivessem vindo ‘na cidade’”.

 

Trabalhando e se divertindo, Paulinho presencia fatos curiosos todos os dias e se diverte contando algumas histórias. “Uma vez, um homem parou olhando para cima e disse que estava conversando com aquele que estava acima do céu”. Além dos causos, ele também lembra com carinho das pessoas que se tornaram ícones da rua. "Lembra da Maria? A Maria, era uma pessoa que trazia alegria para esse Calçadão. Tinha também o Macário. Lembra do Macário? O senhor que tocava uma viola. Eram pessoas que espalhavam alegria pela rua Halfeld”. E é dessa forma, fazendo amizade com quem pede uma informação ou trabalha por perto, que Paulinho vai levando a vida e colecionando histórias inusitadas. 

Vida Cultural no Calçadão

Igor Visentin, Jéssica Vitorino, Jordan Pereira e Vaninha Black

Faculdade de Jornalismo - UFJF

 

 

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