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A Halfeld e eu

Por Jordan Pereira

 

Quando topei fazer esse trabalho de conhecer melhor a Halfeld e traçar um perfil dela achei que seria fácil. Me enganei. Mas foi um doce engano.

 

Começamos a "vivência" de Halfeld, com um olhar jornalístico, no fim de setembro. Eu, Igor, Jéssica e Vaninha. Ao longo do tempo que passávamos lá,  nosso olhar se apurava, conhecíamos mais, víamos mais e entedíamos melhor onde estávamos.

 

Começamos numa sexta feira, no começo da noite. 26 de setembro de 2014. De lá para cá nossa concepção dela mudou completamente. O dia 17 de outubro marcou essa mudança de visão e me aguçou um grande encanto por esta rua.

 

O que a Halfeld tem para nos mostrar?

 

A Halfeld está ali no centro de tudo, no caminho de tudo. Passamos por ali diversas vezes, mas quantas vezes olhamos ao redor?

 

Pensando nisso, resolvi deixar que algo acontecesse, que a Halfeld me mostrasse quem realmente é. E ela me mostrou.

 

Estava na Getúlio Vargas e virei à esquina rumo ao calçadão. Logo fui abordado por um vendedor de balas. Até então tudo normal. Normal demais, aliás. Pensei que seria perda de tempo essa caminhada. Mas segui.

 

Um pouco à frente vi uma aglomeração e, com uma curiosidade intrínseca ao jornalismo, fui ver o que estava acontecendo. Miguel Antônio Valenzuela, Mexicano de 50 anos. Uma grande artista. Um pintor de mão cheia e que não usa pinceis. Sim! Ele produz quadros inacreditáveis usando sprays e matérias como espátulas, pedaços de jornal, um “prato” de vaso de plantas e as mãos. Só.

 

Quando cheguei, ele estava prestes a começar a fazer um novo quadro. Se eu não tivesse visto aquele quadro ser produzido, dificilmente acreditaria que aquele homem, com aquelas ferramentas, produzisse aquilo. Um quadro da paisagem da ponte do Nova York, repleto de cores, brilhos e degrades. Em menos de 15 minutos, algo tão belo feito e com tamanha riqueza de detalhes.
 

Fui conversar com Miguel, ainda estupefato com sua arte. Muito carismático, ele falou de sua, vida, da experiência com a arte e com a Halfeld. Veio para cá quase que “por acidente”. Estava no Rio de Janeiro e um amigo, juiz-forano, falou sobre o calçadão e ele veio expor aqui, sem grandes pretensões. Se apaixonou pelo lugar e pela receptividade. Entre suas viagens, sempre passa por aqui de novo, sendo figura conhecida por muitos transeuntes dali.

 

“Falando honestamente sobre o calçadão: Como toda cultura Latino-americana, há um descontrole por parte das autoridades que não respeita o artista. A fiscalização já me maltratou muito. Atentaram contra minha pessoa para que saísse daqui. Não me sinto humilhado, pois sou uma pessoa que sabe meu valor. Mas já o povo, são incríveis! Magnífico! Eu tenho muito carinho por Juiz de Fora! Já andei por vários pontos da Brasil e Juiz de Fora tem uma magia. Conservam nesse lugar aquele conceito de povo brasileiro caloroso, amável e com valores familiares.”

Miguel Antônio Valenzuela

 

No outro dia, voltei lá e Miguel produziu um quadro maravilhoso para mim. Pude conversar um pouco mais e registrar a produção do quadro em vídeo. Confira aqui a produção do quadro.

 

Além do quadro, o que ficou foi a lição de que temos um espaço muito rico em nossa cidade, mas que muitas vezes não damos valor. Olhamos com admiração a apreço para as ruas marcantes dos grandes centros do país, mas não conseguimos enxergar na nossa grande rua essa reciprocidade. Mesmo que andemos muito por lá, com pressa ou não, vale um olhar mais apurado para aquela calçada, aqueles postes e aquelas pessoas, e não só o olhar para o relógio para vermos o quanto estamos atrasados. Foi preciso alguém de fora abrir meus olhos para o que temos aqui. E espero que mais pessoas vejam com novos olhos essa antiga rua, que tem de tudo. Que o maior ponto de encontro da cidade seja também um ponto de reencontro com nós mesmo e com nossa identidade juiz-forana.

 

Ainda na Halfeld: a bela dama do Ukulele

 

Essa minha caminhada despretensiosa na Halfeld ainda tinha muitas surpresas guardadas.

 

Um pouco mais a frente na rua, em meio às inúmeras barraquinhas de artesãos e comerciantes dos mais variados tipos, algo me chamou a atenção.

 

Na parte que conecta o calçadão com o Cine Theatro Central, uma bela moça, loira, da pele muito clara, estava de pé, tocando Ukulele e cantando. Entre a beleza e a música, não sei definir o que me mais chamou atenção no começo. Mas resolvi me aproximar.

 

Quando ela terminou a canção, sorri e recebi um sorriso de volta. Fui tentar entender e desvendar quem era essa mulher.

 

Julieta Cal, de Buenos Aires. A bela argentina estava de passagem pela cidade. Vive viajando e no outro dia ia para “Ibitipôca”, como dizia.

 

Ela cantou mais uma canção, empolgada, falando de suas composições e viagens. Quando terminou, vi que, junto à capa do seu Ukulele, estavam alguns CD’s. Eram gravações dela, que misturavam composições e clássicos Latino-americanos, compiladas num disco chamado “Uke Del Sur, 11 canciones de America en cuatro cuerdas y uma voz”. Era um material simples, em uma capa de plástico. Na frente um desenho – feito por uma francesa que Julieta encontrou em uma de suas viagens e, na contracapa, a lista das canções. Comprei por R$5 reais que valeram muito. Música boa sendo bem executada. A canção que fecha o disco era uma interpretação de Maria, Maria, de Milton Nascimento, que ficou belíssima.

 

Depois de encontrar esses dois estrangeiros - Julieta e Miguel - continuei pela rua, olhando os artesanatos. Mas realmente a Halfeld já não era a mesma para mim. Meu olhar quanto a essa rua havia mudado e provavelmente não volta mais a ser aquele mesmo, superficial, desapercebido.

 

O artesanato de cada dia

 

Em frente ao Cine Theatro Central, vi uma bela barraquinha de artesanato, com diversos filtros dos sonhos. Fui até lá.

 

Quem produzira todo aquele material foi Vicente Cristiano da Silva, o Cristian, personagem típico da rua. Mesmo tendo somente uma perna, não se rendeu ao isolamento e, com uma bengala, permanece na Halfeld, de 18 até as 22h, vendendo o que produz.

 

Cristian começou a trabalhar com isso em 1995 e viu muita coisa mudar pela rua. Viu muitas lojas chegarem e saírem, viu a iluminação clássica da rua chegar e muita, muita gente passar. "Já vi pessoas de vários lugares do Brasil e do mundo. Estudantes de vários lugares. Coisas aparecerem e desaparecerem. Mas o que se mantêm é a receptividade do público. Os juizforanos tem por característica serem bem acolhedores. Recebem bem os artesãos. Tem lugar que os artesãos são proibidos de passar sequer da rodoviária", conta ele.

 

O artesão, que ocupa o mesmo ponto desde 2008, afirma que gosta da Halfeld pela sua multifuncionalidade. “A rua serve para tudo. Para trabalho e para passeio. De dia ou de noite. É um lugar que recebe todos. É o lugar que me recebeu para trabalhar, que tiro o meu sustento e o lugar que me sinto bem. Sou feliz por viver grande parte dos meus dias aqui”.

 

O que se pode concluir facilmente é que somos privilegiados por termos Halfeld, que tem de tudo e tem de todos. Ela tem muito a nos dizer, então estejam prontos a escutá-la. Ela tem muito a mostrar. Cabe a nós abrir bem os olhos. Vale a pena.

 

 

 

 

 

                                                                                           

 

 

Vida Cultural no Calçadão

Igor Visentin, Jéssica Vitorino, Jordan Pereira e Vaninha Black

Faculdade de Jornalismo - UFJF

 

 

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