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São quase nove horas da noite, quando enfim penetro uma das artérias principais de nossa cidade: a Rua Halfeld, cuja extensão nos leva ao coração cultural de Juiz de Fora, o Cine-Theatro Central. A rua Halfeld poderia ser descrita por um simbolismo que se assemelharia ao nosso organismo. É uma rua arterial. Ao todo, treze galerias se ramificam a partir dela, garantindo uma circulação saudável e ininterrupta de pessoas. Seguindo essa artéria, nos deparamos com outros órgãos culturais importantes de nosso organismo.

 

Dentre eles, descendo poucos metros adiante, temos já à nossa direita o que pode ser considerado atualmente o grande coração cultural de Juiz de Fora. Raphael Arcuri utilizou predominantemente o estilo arquitetônico chamado Art Déco para projetar o Cine-Theatro Central. Esse nosso coração já não é tão novo. Foi inaugurado em 30 de março de 1929, tem 85 anos de idade.

 

No entanto, para ficarmos livres de preocupações, com a incorporação ao patrimônio da UFJF, o teatro foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1994, ano em que começou uma grande reforma, e veio a ser reinaugurado em 14 de novembro de 1996. Com isso, podemos dizer que nosso teatro tem agora 18 anos, está novinho em folha.

 

Se fosse uma pessoa, creio que muitos concordariam comigo que o que realmente encanta no teatro é a sua beleza interior. Isso fica ainda mais óbvio ao pensarmos que é no interior do espaço que acontece a arte. O exterior passa uma simplicidade discreta, que não deixa de ser bela. Mas quando entramos no teatro somos imediatamente acolhidos e sugados para o espetáculo que vem a seguir.

 

Antes do espetáculo em si, há sempre o espetáculo de se admirar repetidas vezes as pinturas de Angelo Bigi em harmonia com a arquitetura de Raphael Arcuri. Não é à toa que os artistas que se apresentam lá atrasam uns vinte minutos, meia hora; é justamente para nos dar mais tempo a esta atividade contemplativa, de imersão, uma preliminar que garante mais prazer à performance artística.

 

Ninfas e faunos em jardins românticos compõem um cenário de forte influência da antiguidade clássica. Medalhões com as efígies de Wagner, Verdi, Beethoven e Carlos Gomes pintados no teto nos esperam lá dentro. Não é preciso ter pressa quando já se tem o ingresso comprado: os ingressos são enumerados e escolhidos no ato da compra, quando o mais sortudo comprador tem a oportunidade de escolher um entre os 1.881 lugares disponíveis. Ao badalar da terceira campainha o espetáculo começa. As luzes se apagam, e a grande cortina vermelha, antes imóvel e impassível como um muro, com agilidade indiscreta se abre para nós.

 

 

 

 

 

Lelei Faini e André Xandó falam sobre a história, os projetos e o futuro do maior teatro da cidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lelei começa a conversa: “o centro de Juiz de Fora virou um shopping a céu aberto. "As pessoas dizem que as galerias são interligadas umas nas outras. Eu me lembro de que quando eu cheguei em Juiz de Fora eu me perdi no centro, é muito engraçado”. Ele e André Xandó, dupla responsável pela direção do teatro, conversaram comigo em uma tarde de sexta-feira.

 

Novamente Faini, que se revelava o mais extrovertido de nós três na sala, emendava uma curiosidade interessante: segundo ele, o Central teria a sua frente construída para a rua São João e os fundos para a rua Halfeld. Mas durante a construção, perceberam que essa não era a melhor escolha. “Viraram a entrada do teatro depois do teatro estar construído! Se você observar lá fora, tem uma estruturazinha de uma sacada, o fundo do teatro é bonito também. Ele é tão bonito quanto a entrada”, ressalta o diretor.

 

Em seus 85 anos de existência, o Cine-Thatro Central, diz Xandó, passou por três fases. Na primeira, que durou desde a inauguração até os anos 60, a população o visitava em bom número, marcando uma fase muito rica. “Grandes estrelas da França e da Inglaterra na época, que fizeram filmes na Broadway e em Hollywood pro mundo inteiro, estreavam espetáculos em Juiz de Fora” adiciona nostalgicamente Faini, apesar de não ter idade suficiente para se relembrar do ocorrido.

 

A segunda fase, continua Xandó, que vai dos anos 70 aos 80, apresentou um Cine-Theatro deteriorado. “Virando cinema, nas mãos de uma empresa particular, que só extraia lucro do Cine-Theatro, [o teatro] não recebia investimento nenhum. E ele foi se deteriorando, tanto é que até hoje estamos fazendo obras de restauração de coisas que eles fizeram naquela época, de estragos que fizeram ao teatro” explica André Xandó.

 

A fase foi ainda agravada pela decadência das grandes salas de cinema na época, que passaram a ser menores e mais tecnológicas. A crise só foi superada na década de 90, quando o Cine-Theatro entrou como parte do patrimônio da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e uma grande restauração foi realizada, recuperando a autoestima do teatro na alma do cidadão juiz-forano.

 

A terceira fase, que começou nos anos 90 e que permanece até hoje, está indo cada vez melhor. “Hoje a gente tem em média 150 mil espectadores frequentando o Theatro por ano em espetáculos teatrais, musicais, palestras, seminários e eventos das mais diversas naturezas” diz Xandó.

 

Mas o que o Central guarda para o futuro? Xandó responde. “A gente tá no meio de uma obra de manutenção da restauração do teatro. Uma obra de seis meses que está fazendo todo o retoque de pintura do teatro por dentro e por fora. Fora isso, a gente vai restaurar também o piso do foyer aqui na entrada e da escadaria principal também”.

 

Faini revela ao menos dois projetos esperados para 2015. O primeiro visará estimular os espetáculos infantis, que serão realizados aos domingos e a preço popular, se o projeto for aprovado. O segundo será a transformação do foyer de entrada em um museu, o museu do Cine-Theatro Central.

 

“Pra você ver a quantidade de coisas né, é evento, formatura, reforma, visita guiada, projeto que tem que entrar em janeiro, e tudo ao mesmo tempo, não é brincadeira não!”, concluiu Lelei, encerrando nossa conversa. Desajeitadamente me despeço, agradeço pela conversa, ganho convites de brinde, agradeço novamente, e vou embora.

 

Por Igor Visentin

Por Igor Visentin

Dia de visita, uma impressão

Cine-Theatro Central revela novidades em bate

 

papo

 

Vida Cultural no Calçadão

Igor Visentin, Jéssica Vitorino, Jordan Pereira e Vaninha Black

Faculdade de Jornalismo - UFJF

 

 

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